1980. Eu tinha treze anos, ia começar a 7ª série do ensino fundamental e resolvi ir para uma escola mais próxima à minha casa. Na época, eu era filha de pais separados e vivia meus infernos particulares, fantasmas que ainda hoje vêm me assombrar em sonhos e em alguns casos, limitar meus relacionamentos a contatos superficiais. Idade difícil, cabelão armado, pernas finas, eu era a mais esquisita das criaturas. Acho que as meninas nessa idade se sentem meio assim, com exceção daquelas que nascem, vivem e morrem parecendo bonecas, cabelos perfeitos, rostinhos corados, etc., etc., o que não era o meu caso. Por que eu estou falando nisso? Acho que é para acentuar a importância de uma amiga em nossa vida.
Conheci a Rose naquele ano, na sala de aula. Para mim, a
Meire. Ela não gosta, mas no meu coração esse é o seu nome. Ela foi a primeira
pessoa a falar comigo e me trazer para a turma de amigos. Me levou para treinar
voleibol no Fioravante, apesar de eu ser péssima na quadra, me levou a primeira
vez ao Recreativo, balada da época, me arrumou o primeiro emprego e o segundo
também. Me apresentou ao primeiro motoqueiro, me ensinou a fumar, a lixar as
unhas para deixá-las redondinhas, a gostar da Antena Um FM, de violão (ela tocava
e cantava), a gostar de interior... Na época minha mãe dizia que parecia que
nós nascemos grudadas, mas a nossa amizade era minha referência porque ela era
bonita, inteligente, carismática. A risada dela é inesquecível, o jeitinho de falar...
A vida foi passando e nos afastou. Em mim ficou saudades e a
sementinha do reencontro. Parece que estou falando de amor, mas a amizade é
isso, amor platônico não romântico, é a admiração, respeito, carinho, tudo
misturado, um sentimento que deixa um gosto doce na boca, uma sensação de
segurança e bem querer.
Passaram-se mais de vinte anos. Eu que não sou muito fã de
internet, fiz um Orkut para procurá-la.
Achei. Em agosto desse ano finalmente aconteceu o reencontro e
adivinhem... ela está igualzinha, igualzinha, até a risada! E mais: trouxe junto
o primo dela e nosso amigão da época, o Evanil. Festa completa, foi igual a
noite de Natal, os melhores presentes, a alegria, o carinho, as lembranças, o
papo atrasado, as histórias.
Em setembro estive em São Paulo no apartamento dela.
Tratamento de hotel 5 estrelas, conversamos muito, bebemos, rimos, passeamos.
As noites foram longas, quanta coisa para falar, quanto assunto para por em dia,
quantas lembranças. Ela definiu nosso
encontro corretamente: RESGATE. Resgatamos a adolescência da alma, o dom de
estar feliz e se sentir o mais perfeito ser do universo. Prerrogativa da nossa
idade: adolescentes maduras.
Meire, sei que você vai entender se eu falar que a nossa
amizade é igual a SOFT MACHINE. Estou ansiosa pelo próximo encontro. Outubro, não
é amiga?